Controle neuroendócrino e o papel do hipotálamo
Controle neuroendócrino
Para que o organismo funcione, todos os processos fisiológicos precisam ser regulados. Os mecanismos de regulação podem ser de diferentes naturezas e, bem amplamente, podem ser dos tipos intrínsecos ou extrínsecos. Os mecanismos de autorregulação dos sistemas são intrínsecos. Já as vias extrínsecas são constituídas, principalmente, por controles neurais e endócrinos. As vias neurais são constituídas pela rede de neurônios que alcançam todos os órgãos por seus axônios, ou seja, um comando processado e decidido no sistema nervoso central (SNC) viaja ao longo dos axônios, pelos nervos no sistema nervoso periférico (SNP) diretamente até o órgão-alvo. Para responder a esse estímulo, as células do órgão precisam estar próximas aos terminais axônicos. A via endócrina funciona de outra forma: hormônios são produzidos por células específicas, lançados na corrente sanguínea e, como o sangue banha praticamente todos os órgãos, eventualmente, o hormônio encontra a célula-alvo. Respondem a um hormônio aquelas células que tiverem receptores específicos para ele.
Um dos aspectos fundamentais da fisiologia veterinária é reconhecer a necessidade de integração e adaptação dos diferentes sistemas. Sabemos que o aparelho digestório tem a função de digerir o alimento e absorver nutrientes. Mas todas as células do corpo necessitam de nutrientes. Da mesma forma, o aparelho respiratório promove troca gasosas, mas todas as células precisam do oxigênio que é captado nos pulmões. Os vertebrados, como seres heterotróficos, locomovem-se em busca de alimento e há um custo metabólico que o corpo precisa ter “planilhado” de alguma forma.
Em resumo, há um mecanismo muito complexo de monitoramento, processamento e elaboração de comandos, que não estamos nem percebemos que está acontecendo a todo momento dentro da gente.
O hipotálamo, que é uma pequena, bem pequena parte da massa encefálica, é responsável por grande parte do controle das funções mais básicas do corpo, integrando os sistemas nervoso e endócrino. Por isso, começaremos por ele.
Hipotálamo
O hipotálamo localiza-se logo abaixo do tálamo e conecta-se com a hipófise, de forma especialmente contínua com a neuro-hipófise, que também é constituída por tecido nervoso, enquanto a adeno-hipófise é composta por tecido glandular. Ele faz parte do diencéfalo e compõe as paredes da parte mais ventral do terceiro ventrículo, sendo delimitado rostralmente pelo quiasma óptico e caudalmente pelos corpos mamilares, que alguns neuroanatomistas consideram como parte do próprio hipotálamo.
(Peça do acervo anatômico do Departamento de Veterinária da UFV, processada por plastinação pelo Professor Tarcízio Antônio Rêgo de Paula)
No hipotálamo, encontram-se núcleos, ou seja, conjunto de corpos neuronais organizados em um circuito que processa informação sobre um determinado mecanismo de adaptação ou resposta. A partir daqui, são disparados comandos nervosos ou endócrinos. O primeiro tipo será conduzido principalmente via sistema nervoso autônomo (SNA), tanto pela divisão simpática quanto pela parassimpática. O segundo tipo estimulará a produção e secreção de hormônios.
As funções associadas aos núcleos hipotalâmicos são aquelas fundamentais para a sobrevivência do organismo, como termorregulação, sono, apetite e reprodução. Os núcleos recebem sinais de diversos tipos e origens, por vias nervosas aferentes (ou sensoriais) e por via humoral através de receptores presentes no próprio hipotálamo. Ele é capaz de detectar diretamente a osmolaridade do sangue e controlar a liberação de hormônio antidiurético de forma proporcional ao nível monitorado. Também detecta níveis circulantes de diferentes hormônios para ajuste nos eixos endócrinos.